Homem de Ferro 2
Desventuras de um milionário em crise
Filme consolida as fundações do Universo Marvel no cinema - para o bem e para o mal

A nova aventura do vingador dourado começa exatamente onde o filme anterior terminou, com Tony Stark declarando publicamente que é o Homem de Ferro. Somos levados então para a Rússia, onde um pinguço chamado Ivan Vanko assiste a enrevista coletiva do milionário, enquanto lamenta a perda do pai e jura vingança contra Stark.

Seguem-se mais ou menos duas horas de projeção carregadas de boas atuações, cenas engraçadas, dramáticas e cheias de ação - e com direito a cena escondida no final dos créditos que remete à nova produção do Marvel Studios para o ano que vem.

O roteiro é uma pérola cheia de surpresas para fanboys em geral, mostrando desde a chegada da espiã Natasha Romanoff (uma Scarlett Johanson sedutora, mas sem expressão) até a crise alcoólica do herói - aqui justificada por um motivo mais, digamos, aceitável para o grande público.

Mas Homem de Ferro 2 é falho em muitos pontos essenciais e a produção chega a lembrar os erros cometidos em outra recente (e lucrativa) adaptação da Marvel: Homem-Aranha 3.

Veja só: o herói vaidoso, aclamado pelo público, não percebe que seu mundo está ruindo até que tudo já esteja abaixo e depois renasce para derrotar os bandidos, claro, com a ajuda de seu grande amigo, também super-herói.

Elenco
Mais uma vez, Robert Downey Jr. carrega o filme nas costas. São dele as melhores cenas e sequências - como não poderia deixar de ser, claro. Mas o ator eleva seu personagem a um novo patamar, mais dramático, melancólico e prestes a se tornar o líder implacável que lemos nos quadrinhos atuais.

Já Don Cheadle parece deslocado como o coronel James Rhodes. Sinceramente, Cheadle é um grande e premiado ator, mas não tem nada a ver com o personagem que foi de Terence Howard. Não tem o carisma nem o charme de Howard e cara de mico assustado não ajuda nas cenas de ação.

Gwineth Paltrow até que se esforça como a assistente de Stark, fazendo até milagre com as três páginas de texto que deram para ela, mas Pepper Potts perde terreno toda vez que Scarlett Johanson está por perto.

Já Samuel L. Jackson se esqueceu de desligar seu piloto automático. Seu Nick Fury e o assassino de Pulp Fiction ou o matador de cobras de Serpentes a Bordo são simplesmente a mesma coisa.

Mickey Rourke não desaponta como o nêmesis de Stark, mas também não faz nada notável. Seu personagem parece tão real quanto cachaça russa - um pobretão russo e gênio da física com corpo de halterofilista, mechas coloridas nos cabelos, dentes recheados de ouro e luvas de couro com dedos cortados. Viajaram legal.

Depois da metade do filme, o misto de Chicote Negro com Dínamo Escarlate simplesmente se apaga.

Quem realmente chama atenção é Sam Rockwell (Confissões de Uma Mente Perigosa, As Panteras) como o negociador de armas Justin Hammer. Dono de uma elegância comparável a de Stark, mas sem as piadas certas, Hammer quer ser o novo monge de ferro do Pentágono, mas não consegue desenvolver algo parecido com a armadura do Homem de Ferro - o que, óbvio, o levará a cruzar o caminho de Vanko.

Os dois vilões foram concebidos para serem lados negros da persona de Stark. Ambos são parte do que forma o milionário herói, mas tomam caminhos bem diferentes para alcançar seus objetivos.

Bem pensado.

Três estrelas
Mas, apesar da grandiosidade, de mais personagens da mitologia dos quadrinhos e de muito mais dinheiro na produção, se comparado ao seu antecessor, Homem de Ferro 2 perde feio.

No decorrer do filme, o frescor do humor vai perdendo terreno para a dramaticidade do roteiro e dá para perceber que o diretor Jon Favreau segurou as pontas para não criar um novo O Cavaleiro das Trevas - o que, por si, seria muito interessante de se ver.

Senti no filme uma necessidade de manter o público rindo, mesmo quando a cena pede tensão. E as cenas de ação, um dos pontos fortes do primeiro, são muito fracas, qualquer coisa - o final, por exemplo, é decepcionante enquanto o ápice de um filme.

A exceção é a sensacional sequência em Mônaco - de longe, a melhor coisa do filme, onde Favreau mostra que é um diretor experiente e que sabe comandar uma superprodução.

No geral, Homem de Ferro 2 ganha três estrelas. É um bom filme e um bom entretenimento, que consolida o personagem e o estilo Marvel de fazer cinema - leia, tentar agradar a todo mundo. Se para o bem ou para o mal, só vamos tirar a prova no ano que vem, com Thor, de Kenneth Branagh.

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