
Passar pelo show de uma banda que você esperou ver ao vivo por uns 14, 15 anos não é fácil. Tanto que só agora, quase 24 horas depois de conferir a apresentação, é que consegui digerir realmente tudo o que senti na Chácara do Jóquei na noite de domingo, dia 22.
Logo de início, a noite parecia estar sujeita ao caos. Apesar de ter saído de casa cedo, o trânsito nas cercanias do "festival" estava praticamente parado. Depois de perder tempo sem sair do lugar, estacionei o carro numa rua qualquer e segui a pé.
No trajeto, dei de cara com algumas personas conhecidas (mais ou menos) da música brasileira. A mais notória pra mim, Fred Zero Quatro, co-fundador do Manguebit e líder do Mundo Livre S/A, a quem pago reverência desde o início da década passada.
Já na Chácara, um terror. O lugar só cheirava a mijo e merda de cavalo e o chão era lama pra todo lado. A produção do Just A Fest colocou barraca de primeiros socorros e banheiros limpinhos, mas se esqueceu da parte visual - curtir um show sobre um pasto feio e fedorento tira o humor de qualquer um.
Mas...
Show Histórico
Exatamente às 22 horas, a batida de 15 Steps deu início à apresentação do Radiohead em São Paulo - a segunda e última por aqui, até a próxima vez, só Deus sabe quando.
O que dizer? Som limpo, tão bem equalizado que parecia um CD tocando. A banda extremamente afiada, ousando ainda mais que no disco, elevando os arranjos a um patamar de perfeição.
Em There There, a Chácara veio abaixo - procure no YouTube. A gritaria era tanta que quase não dava pra escutar a banda tocando. O que me levou a questionar o volume do som saindo do palco.
Quando a banda tocou All I Need, de In Rainbows, veio a confirmação: o som estava realmente baixo. O que irritou a princípio, levou o público a repensar a euforia e baixar o tom para ouvir o quinteto de Oxford - afinal, Radiohead não é U2.
O que mais me impressionou no show de Thom York e seus asseclas foi o espírito de experimentação do começo ao fim. O grupo estava lá tocando primeiro para eles e depois para o público, algo mais comum a jazzistas, por exemplo. O diálogo com a platéia se resumia um "Olá" aqui e um "Obrigado" ali.
E o que poderia ser um ponto negativo se tornou uma experiência única, pouco vista em turnês de grandes bandas, mais afeitas ao famoso setlist de grandes sucessos.
Hits e Lados B
A banda navegou com maestria por hits, como Fake Plastic Trees e Karma Police, e faixas mais obscuras e modernosas, como The Gloaming e You And Whose Army (confira o setlist completo logo abaixo), totalizando 26 canções em quase duas horas e meia.
A iluminação do palco e os telões com cinco câmeras apontadas para a banda davam o toque final, mesclando imagens aleatórias dos músicos a efeitos visuais que pontuavam algumas canções, se tornando indispensáveis para causar o impacto desejado no público.
Ao final, após dois bis, a banda retornou para agradecer o carinho do público brasileiro. Num carregado "obrigado, Brasil", York se despediu e engrenou Creep, seu primeiro grande sucesso, que a banda, inclusive, costuma não tocar mais.
Era o que faltava para os 30 mil pagantes voltarem pra casa com a certeza de ter presenciado algo único, mágico. E foi mesmo.
Setlist:
15 Step
There There
The National Anthem
All I Need
Pyramid Song
Karma Police
Nude
Weird Fishes/Arpeggi
The Gloaming
Talk Show Host
Optimistic
Faust Arp
Jigsaw Falling Into Place
Idioteque
Climbing Up The Walls
Exit Music (For A Film)
Bodysnatchers
Bis 1
Videotape
Paranoid Android
Fake Plastic Trees
Lucky
Reckoner
Bis 2
House of Cards
You and Whose Army
Everything In Its Right Place
Bis 3
Creep
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