Ensaio Sobre A Cegueira
Em terra de cego...
Julianne Moore é a rainha

Em Ensaio Sobre a Cegueria, o diretor Fernando Meirelles, de certa forma, conseguiu realizar seu maior filme, mas também seu menor. Eu explico.

Já era sabido que a adaptação do romance de José Saramago seria bem difícil e que Meirelles tinha uma certa devoção e respeito muito grandes ao livro e que queria, acima de tudo, agradar seu autor.

Aparentemente, isso se tornou um problema - não dos grandes, mas um problema. Porque o Meirelles inventivo de Cidade de Deus e ousado de O Jardineiro Fiel, ficou suprimido por um outro eu, mais afeito ao temor de desagradar um grande ídolo.

E o resultado foi um filme mediano, com grandes momentos se contrapondo a seqüências apáticas e conduzido por uma Julianne Moore excepcional - o que poderia lhe render uma indicação ao Oscar no ano que vem.

Na trama, um vírus que dissemina uma espécie de cegueira branca começa a se espalhar pela cidade - São Paulo, tão bela quanto nunca foi. Um médico, vivido por Mark Ruffalo (Zodíaco), é contaminado após manter contato com um paciente e conduzido a uma detenção.

Sua esposa, Julianne Moore, de alguma forma é imune ao vírus, mas finge estar contaminada para dar assistência ao marido. Logo, ela se tornará o elo vital de sobrevivência de um pequeno grupo, composto, entre outros, por Danny Glover e Alice Braga, e iniciará uma jornada em busca do caminho de casa.

Mas se, depois de ler estas linhas, você achar que Ensaio Sobre a Cegueira é um filme ruim, peço desculpas. Não se trata disso.

De um modo geral, achava-se que adaptar fielmente um livro em que os personagens não têm nome e que a cidade onde se passa a história não é identificada seria um tiro no próprio pé. Meirelles não se intimidou, conseguiu manter o máximo de fidelidade possível e fez um filme competente.

A tensão da primeira meia hora de projeção, quando o vírus se espalha gradativamente, apresentando os personagens principais, é simplesmente formidável. Mas é na seqüência do aprisionamento dos contaminados no gueto, toda ela, que se sente a direção ficou temerosa.

Assim como em The Mist e em tantos outros filmes de terror psicológico, vemos indivíduos que representam as diferentes classes que compõem uma sociedade mostrar seu lado mais negro numa hora de desespero.

Mas, diferentemente desses filmes, Cegueira mostra um lado negro ainda mais profundo da alma humana, expondo situações realmente desagradáveis, mas sem questionar, por exemplo, a formação de cada personagem.

Nesse ponto, o filme corria um grande risco de se tornar um retrato tão amargo que o público poderia fugir das salas de cinema. Então, nota-se um crescendo de situações ruins finalizado por momentos poéticos e de alívio - que acabaram comprometendo a condução da história.

Depois da fraca recepção da crítica internacional em Cannes e no Brasil, o filme busca agora seduzir o mercado americano, onde estréia em 3 de outubro, para lutar com gente grande por uma vaga nas categorias da premiação da Academia em 2009.

Comentários

Anônimo disse…
Eu não gostei do filme. As primeiras cenas são muito boas, o flash branco de uma cena para outra, o passar de câmeras atrás das paredes, sempre destacando muito o branco, fazendo com que o telespectador embarque mesmo no filme imaginando como seria uma cegueira. Para nosso orgulho algumas cenas foram filmadas no Brasil, mais precisamente em São Paulo.
O filme mostra bem como as pessoas conseguem viver em uma comunidade e como dentro dela é possível a formação de uma “gangue”.
Para mim o filme acaba do meio pro fim. A cena em que as mulheres são obrigadas se sacrificar para o bem de todos, realizando os desejos sexuais dos homens do outro grupo é ridícula. Eles mal pararam pra pensar em outra solução. Não me vejo em uma situação como essa, até porque para qualquer mulher é preferível a morte a ser humilhada a esse ponto. Eu não sei o que o autor quis passar com isso, mas eu acho que essa parte foi para impressionar. E o final é idiota, eles fogem, voltam a enxergar e vivem felizes para sempre.

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