
da Caveira de Cristal
O exercício da nostalgia
Primeiro, tenho que pedir desculpas pelo atraso. Já se passou mais de um mês da estréia da nova aventura do arqueológo mais heróico do cinema e este texto, até ontem, não passava de um mero rascunho.
Tanta aparente desatenção dá a entender que eu não gostei do filme. Mas não foi isso. Mais de US$ 300 milhões de arrecadação nas bilheterias mundiais, duas sessões e algumas reclamações depois, eis que me senti forçado a terminar a crítica de Indiana Jones e o Reino Caveira de Cristal.
O quarto filme do professor Henry Jones Junior, sob a batuta de Steven Spielberg, George Lucas e da mesma equipe por trás de Os Caçadores da Arca Perdida não poderia ser mais delicioso.
Há um clima nostálgico permeando a produção do início ao fim. Aí você me diz, "mas a série sempre foi um exercício nosltágico, adaptando os antigos seriados de cinema para os novos tempos". É verdade.
Mas agora a nostalgia parte dos olhares do próprio elenco. Todos parecem encantados em estar reunidos de novo, quase 20 anos depois, e por fazerem parte de um filme em que é evidente que o prazer foi o elemento principal.
O filme começa em algum lugar no deserto de Nevada, em 1957, 18 anos após A Última Cruzada. A melodia ácida de "Hound Dog", cantada por Elvis Presley, dá o tom de choque espaço/tempo da primeira cena - uma estrada no meio do nada, cheia de veículos militares e alguns carros com garotos saídos de algum filme de James Dean, dispostos a fazer um racha.
Se você entender essa cena, entendeu todo o filme de Spielberg e Lucas. Diversão é a palavra de ordem. Pegue o balde de pipoca e o refrigerante e esqueça do mundo real por duas horas recheadas da melhor aventura, ação e comédia em cartaz hoje.
Da primeira aparição de Harrison Ford na tela (velho que só o diabo) até o surgimento de Karen Allen como Marion, com "aqueles" olhar e sorriso, a aventura é só prazer - para os fãs da série e para os não fãs, que certamente vão correr para assistir os filmes anteriores.
Os novatos (na cinessérie) Shia LaBeouf (perfeito) e Cate Blanchet (fenomenal) não fazem feio e quase chegam a roubar a cena em boa parte do filme - e isso só não acontece porque o roteiro é muito bem amarrado.
Com ajuda dos dublês, Ford não faz feio como o explorador ousado, mas envelhecido. Numa cena, chega a apanhar como cachorro sem dono, remetendo a uma luta do primeiro filme, mas atualizada pela idade avançada do personagem.
Na trama, uma equipe russa busca em solo americano um artefato que leva a um mistério escondido na América do Sul. KGB, corrida armamentista, sorveterias, blusões de couro, motocicletas, tribos extintas, dardos envenenados e até uma homenagem ao bom e velho Tarzan. É formidável.
Em alguns momentos, Indiana Jones e o Reino Caveira de Cristal parece ter sido realmente feito nos anos 80 - tem seus exageros, seu humor, sua pouca pretensão. E, a despeito dessa década renegada pelos críticos ter sido boa ou ruim, isso é um elogio dos melhores.
Viva o cinema despretensioso. Viva Spielberg e Lucas. E que venha mais um.
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