A Conquista da Honra
Eastwood expõe América demagógica

Vamos deixar logo claro: Clint Eastwood é um monstro do cinema. Quem poderia imaginar que aquele ator mediano com cara de mau nos faroestes de Sergio Leone se tornaria um diretor sensível e detalhista, apto a realizar desde dramas pequenos a produções milionárias?

É mais ou menos como Arnold Schwarzenergger dirigir Laços de Ternura e depois Laranja Mecânica.

Tudo bem, isso não é novidade. Mas eu tinha que babar um pouco antes de escrever sobre Flags of Our Fathers, aqui intitulado equivocadamente de A Conquista da Honra.

O filme conta a história da virada americana sobre os japoneses na Segunda Guerra Mundial, depois da divulgação da fotografia de seis soldados fincando a bandeira americana no topo de uma montanha na ilha de Iwo Jima - o que gera uma onda de patriotismo cego e oportunismo político na "terra dos livres".

A partir desse fato, Eastwood vai-e-vem no tempo/espaço para mostrar o dia-a-dia dos três sobreviventes da imagem, elevados à categoria de heróis apenas para o governo americano conseguir arrecadar mais dinheiro para financiar a guerra.

Vemos então três tempos dos personagens principais: durante a batalha de Iwo Jima, na volta ao lar e muitos anos depois, já idosos, comentando o passado e colhendo os traumas - não necessariamente nessa ordem.

Eastwood mostra uma América perdida, em busca de inspiração e liderada por uma política claramente demagógica, que não poupava a vida de seus jovens para alcançar primeiro o topo da corrida armamentista.

A cena da batalha de Iwo Jima lembra aqueles 25 miutos sufocantes de O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg, inclusive na fotografia com tons frios, quase sem cor. Assim como no filme de Spielberg, a seqüência é como um tapa na cara. Só vendo.

Aliás, as semelhanças com O Resgate podem não ser mera coincidência, já que Spielberg é o homem por trás do filme de Eastwood.

O diretor de E.T. não só produziu a película como garantiu mais alguns milhões para Eastwood filmar outro longa sobre a mesma batalha - Cartas de Iwo Jima, que estréia no dia 16 de fevereiro -, só que desta vez mostrando o lado dos japoneses e falado no idioma da terra do sol nascente.

Baseado baseado no livro homônimo de James Bradley, filho de um dos soldados da histórica fotografia, Flags of Our Fathers é um retrato frio dos efeitos da guerra no coração de uma América quase ingênua e discute a linha tênue entre verdade e mito numa sociedade ambiciosa. E muito mais.

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