
Mel Gibson se supera (no bom sentido)
Alguns diretores precisam apenas de um début para se firmar no mercado cinematográfico como gênios da sétima arte - a exemplo dos quase novatos David Fincher (Seven), Joe Carnahan (Narc) e Alejandro Iñárritu (Amores Brutos), só para citar alguns nomes.
Outros já não têm a mesma sorte. Ou talento.
Após quatro filmes, o simpático ator e quase novato diretor Mel Gibson ainda não conseguiu estabelecer uma identidade para seu trabalho, apesar de já ter conseguido bons resultados.
É dele o delicado drama de sessão da tarde O Homem Sem Face, sua boa estréia na direção, com um roteiro enxuto, um parceiro mirim de bom quilate e até uma boa atuação de si mesmo.
Mas eis que em seguida Gibson apresentou um filme de três horas, pretensiosamente baseado numa história real, mal produzido, com roteiro preconceituoso e atolado de clichês. Mas ganhou o Oscar de melhor filme e direção.
Coração Valente encheu os bolsos de sua produtora e atolou sua cabeça de estrelas. Financiado pela organização anti-semita presidida pelo seu pai, Gibson usou seu nome e prestígio para conceber o escárnio cinematográfico A Paixão de Cristo. E lotou os cinemas do mundo todo.
Mas, apesar do sucesso, Gibson não se sentia um diretor realizado, pois a crítica especializada (sempre ela) não o considera um grande realizador de cinema. O que fazer então?
A grande idéia surgiu e o agora somente diretor sumiu do mapa com um roteiro sobre o últimos dias de uma civilização indígena da América Central, falado em dialeto local e com uma violência mais que explícita. E, finalmente, Gibson fracassou nas bilheterias.
Apocalypto custou a Mel Gibson US$ 40 milhões e faturou nos cinemas americanos, até o último dia 30, pouco mais de US$ 50 milhões - um megafracasso para os padrões hollywoodianos. Só que desta vez, apesar do fracasso nos cinemas, Gibson acertou em cheio. Apocalypto é de longe o seu melhor filme.
Numa mistura de Rapa Nui com O Último dos Moicanos, Gibson construiu um épico indígena que mostra a decadência da civilização Maia pelos olhos de mebro de uma pequena tribo que luta para sobreviver em meio ao caos pré invasão espanhola.
Falado em dialeto maia e estrelado por atores desconhecidos e com feições indígenas, a película segue uma narrativa simples, situacional, e é extremamente crua nas cenas de ação. Os elementos que caracterizaram os dois grandes sucessos do diretor estão presentes - a fotografia grandiosa, os persongens óbvios (o malvado, o bonzinho, o sério) e o derramamento de sangue. Só que aqui fazem sentido.
A despeito de uma ou outra cena excessivamente violenta, Apocalypto é um filme impressionante e aponta uma certa maturidade do diretor. A seqüência no interior da cidade maia é de uma grandiosidade digna de Steven Spielberg. Os atores estão perfeitos, a fotografia belíssima, o trabalho de maquiagem e figurino impressiona e o roteiro não aponta soluções fáceis.
Que Gibson continue assim.
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