A banda no início da noite de sexta-feira
Pearl jam no Brasil
O show de sexta-feira

A banda se foi. Seguiu para Cidade do México, onde fará três noites. Mas o Eudiário registrou o que pôde sobre a passagem do Pearl Jam no Brasil - em especial a apresentação da última sexta-feira, dia 2. Ficaram as impressões do que será lembrado até a próxima turnê dos caras pelo Brasil, promessa feita no palco para 40 mil súditos. Seguem as memórias de uma noite para se lembrar.


17h45
Cheguei de carona no Pacaembu. Em meio a bancas de revistas, barracas de camisas, stand de rádio (a 89 FM) e carros e guardas da CET, uma multidão se amontoava na praça Charles Miller. e mais gente vinha chegando de tudo que é direção. Ainda esperei por mais ou menos uma hora até que minha patroa chegasse e adentrássemos o gramado coberto do Pacaembu. O Mudhoney começou a tocar antes das 18h30 e a garoa que caía começou a apertar - o que me fez comprar duas capas de chuva.

18h50
Os barulhentos e deslocados do Mudhoney deixaram o palco e a equipe de roadies do Pearl Jam não perdeu tempo, arrumando tudo no palco para a banda principal. Ralei atrás de cerveja e descobri que a venda estava proibida dentro do estádio - e fora só era permitida até as 19h30. Contentei-me com água mineral (a R$ 2,00 o copinho) e corri atrás de um bom lugar para assistir ao show. Começa a chover e eu começo a desejar ter comprado ingresso para as cadeiras cobertas.

19h20
O Pearl jam invade o palco e solta Go, Hail Hail e Animal - três pancadas de uma vez. Com a chuva na cabeça e a capa de plástico completamente embaçada, percebo que se proteger da chuva nesse momento é pura frescura.

A luminosidade do dia é inimiga do show, que começou muito cedo para não incomodar os vizinhos do estádio e a prefeitura - esse povo que não reclama dos jogos às quartas e domingos, mas se incomodam com shows de rock 'n roll. Não dá para ver o jogo de luz do palco e o telão é uma lona branca. Mas tem o som dos caras, que é o que interessa.

Nem tudo é uma beleza. A galera da maconha perde a timidez e dá as caras. Chega uma hora em que você não aguenta mais e reclama com os lombreiros. "Fuma sua bosta, mas solta a larica para cima, pô", digo enraivecido e sou atendido. Mas tem o som dos caras, que é o que interessa.


Um fã ardoroso movimenta a bandeira de São Paulo

Fiéis da igreja grunge
Só quem é fã do Pearl Jam (fã de verdade) pode entender como é difícil escrever um texto sobre um show que foi perfeito, apesar das imperfeições. Era dia, o estádio estava ultra-lotado, os maconheiros não davam trégua, a chuva não parava, a lama sujava as canelas, mas o que interessava mesmo era o som da banda. E esse foi impecável.

Para um fã que viu a banda nascer no começo dos anos 1990 e que acompanhou a trajetória nesses 15 anos de estrada, o show do Pearl Jam foi mais que uma apresentação, foi uma missa rock 'n roll, um culto onde Eddie Vedder era o messias (estava até a caráter, vestindo trapos e com barba e cabelo longo) e o público, os fiéis.

Quase todas as canções (sempre existe aquela que você não lembra direito) foram cantadas pela galera, até a última corda vocal. O set list tentou abraçar toda a carreira do grupo, o que quase foi alcançado. Estavam lá Even Flow, Porch, Do The Evolution, Once, Rearviewmirror etc. Para mim, faltaram Daughter e Nothingman. Mas para outros faltaram muitas outras canções também - ou não.

Em Better Man, Vedder deixa a galera à vontade para cantar a primeira parte da canção. Isqueiros e celulares iluminam o estádio, já num clima de penumbra. Helicópteros dão rasantes sobre o estádio, movendo um canhão de luz sobre nossas cabeças. As mãos para o alto, quase imóveis e um coro de 40 mil vozes que se tornaram uma... Por mais detalhes que eu queira acrescentar, o momento é indescritível.

O vocalista se esforça para se comunicar com a platéia em português - tinha um caderninho com algumas frases anotadas num canto. A certa altura, emocionado, diz que o lugar era melhor do que Seattle, num português misturado com espanhol - era mais fácil entender o cara quando ele falava em inglês.

Gabba, gabba, hey
Vedder se emociona quando fala de Johnny Ramone, morto há cerca de um ano. Num portunhol dos bons, diz que sente falta do amigo e o público grita "Hey, Ho, Let's Go" (grito de guerra dos Ramones) sem parar. Emocionado, Vedder olha para cima e pergunta, "Pode ouvi-los, Johnny, pode ouvi-los?", então emenda a belíssima Man of the Hour. E em seguida a banda toca I Believe in Miracles, homenageando os Ramones.

Outros momentos emocionantes acontecem. O guitarrista Stone Gossard larga seu instrumento e assume os vocais em Don't Gimme No Lip, lado B presente na coletânes Lost Dogs, de 2003, pela primeira vez na América Latina.

Em Black, o público canta a letra inteira sem parar. Até o famoso solfejo (tchuru-tchuru, tchururu...) da canção é entoado pela platéia. O vocalista diz que nós conseguimos transformar uma música triste numa canção alegre, agradece a presença de todo mundo e promete voltar daqui a um ano.

Ainda restam duas canções, Jeremy e Yellow Ledbetter - com os músicos trocando os instrumentos nesta última. A primeira lavou a alma dos fãs, com Vedder descendo do palco e correndo em meio à multidão, e a segunda ajudou a acalmar os espíritos, principalmente quando o vocalista entoou um "São Paulo, obrigado" ao final da canção. Passavam poucos minutos das 21h30. Pouco mais de duas horas de som.

22h
Ainda era cedo quando deixei o estádio e fui para casa. Não consegui deixar de pensar no show durante todo o fim de semana - principalmente porque a 89 FM e o Portal Terra fizeram boas coberturas da segunda noite. Foi realmente uma noite inesquecível. Pelo menos até a próxima turnê, prometida para daqui a um ano. Vamos esperar.

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