"Tom Stall tinha a vida perfeita. Até se tornar um herói."

Marcas da Violência
Um Cronenberg de primeira

Tenho que confessar que achava que o diretor canadense David Cronenberg (Scanners, A Mosca, Gemeos - Mórbida Semelhança, Crash - Sem Limites) estava devendo um grande filme nos últimos tempos, mesmo tendo feito o excelente Spider em 2002.

Talvez pensasse assim porque cresci hipnotizado com seu cinema sanguinolento e impressionável, cheio de referências trash, vísceras expostas e histórias de engasgar.

O fato é que essa impressão de ausência de um verdadeiro Cronenberg terminou com Marcas da Violência (A History of Violence), um filme no melhor estilo que trouxe reconhecimento e fama ao diretor.

Marcas da Violência conta a história de Tom Stall, um pacato (mesmo) dono de restaurante que abomina violência e vive com mulher e filhos numa típica cidade do interior americano (daquelas que todo mundo cansou de ver em tudo quanto é filme).

Mas a vida modesta de Stall vai mudar radicalmente depois que ele reage a um assalto em seu estabelecimento. A princípio, taxado de herói, e depois vendo sua vida ruir numa avalanche de situações que parecem não ter fim.

Não posso falar mais nada sobre a trama (aliás, menti um pouco logo acima, para despistar, eh, eh), pois quanto menos se souber sobre a história de Stall, melhor.

Em Marcas da Violência, Cronenberg consegue reunir tudo de bom de seu cinema autoral para discutir os valores da violência numa sociedade que vive pela arma e nos mostrar que é possível não saber nada sobre quem está ao nosso lado, bem como sobre nós mesmos.

Um filme perfeito, com uma história bem desenvovida, personagens consistentes e um elenco de primeira linha, encabeçado por Viggo Mortensen (que quase chega a carregar o filme nas costas, de tão perfeita que é sua interpretação), pela belíssima Maria Bello, e por um amedrontador (mesmo) Ed Harris.

O DVD é simples mais traz extras dos bons, provando que nem sempre é preciso uma edição dupla para apresentar bom material. Uma sequência de mini-documentários mostra a produção de cenas específicas do filme, dando uma idéia do processo de criação de Cronenberg.

Em outro documentário, intitulado de "Unmaking Of Scene 44" e traduzido erroneamente de "Making Of" (esses legendadores), mostra a construção de uma das cenas mais pesadas e perfeitas do filme, que não está no filme. Entendeu? Não?

Corra à locadora e alugue sem receio.

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